Magnífica 70, novidade série da HBO, explora de forma ficcional a produção cinematográfica da Boca do Lixo

De todos os aspectos sob os quais a ditadura no Brasil pode ser retratada, há um que ainda rende muito caldo: a prolífica produção de cinema em uma idade em que a explosão da sexualidade era rebatida no mesmo nível pela rijeza da increpação. Fazendo jus ao lema de sua matriz, que há anos se propõe a ir além do que é considerado padrão na televisão, a HBO Brasil estreia nesto domingo, 24, a primeira temporada (com 13 episódios) de Magnífica 70 um retrato livre, mas esteticamente impecável, do que foi o folclórico polo cinematográfico reciprocamente publicado porquê Boca do Lixo. Localizado no meio de São Paulo, o lugar foi responsável por produções de faroeste, terror e outros gêneros, mas é mais lembrado porquê o epicentro da pornochanchada.

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A coisa mais pornográfica de Magnífica 70, porém, é ter Paulo César Pereio no papel de um general, conforme define, entre risos, o protagonista da série, Marcos Winter (Vicente). Essa é a mais deliciosa ironia da série: Pereio, ícone do movimento e um dos artistas mais provocadores da dramaturgia pátrio, interpreta um dos militares que tanto censuraram artistas na dez de 1970. Ele vive o sogro de Vicente, sujeito abobalhado e manipulável, que acaba na função de censor de filmes nos anos de chumbo. Isso até se encantar por Dora (Simone Spoladore), atriz de uma das produções vetadas por ele, e ser seduzido pelo universo de caos que encontra nos bastidores da Boca. Dora, por sua vez, também desemboca nesse mundo por casualidade. “Ela é uma personagem-esfinge. Entra na Boca do Lixo para roubar o moeda do filme, mas acaba se apaixonando pela teoria de ser atriz e pelo Vicente”, conta Simone.

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Se a temática de Magnífica 70 não é pornográfica, tampouco ela tem aspiração de ser uma peça histórica sobre a ditadura. “A série fala sobre a cachaça que é o cinema. Uma profissão que não oferece nenhuma segurança econômica, nenhuma firmeza, que faz você se delongar da família e dos amigos, que se torna uma preocupação, mas que você não consegue largar”, define o corroteirista, produtor e diretor-universal Cláudio Torres, que fez a adaptação a partir do roteiro de um longa. “S original era uma comédia com uma premissa poderosa, que se provou muito contemporânea, no que diz reverência à dramaturgia que assola o planeta: personagens contraditórios, falhos e humanos”, define Torres.

Fonte:Rolling Stone Brasil