Carioca OMULU cria o selo Jambú Music com lados B do treme paraense
“Hey Marlon Branco? E aí Lady Green? Vamos acuendar esse padê? Ah, só se for agora. Isso não vai dar certo”. Chocado? Essa é a ideia. Os primeiros versos da “Dança do Padê” já mostram que a dupla formada pela estrela paraense Marlon Branco e Lady Green quer abalar as pistas. A dança proibidona do treme (espécie de eletromelody mais acelerado, dançado em forma de tremedeira) é o principal lançamento do Jambú Music, novo selo idealizado pelo carioca Antonio Antmaper, do projeto OMULU.
O selo foi criado para divulgar músicas menos comerciais, que não entram na programação das aparelhagens mais pop. Menos vocais e melodias são entrecortadas por ainda mais mash-ups nas faixas disponibilizadas já no Soundcloud do selo, como a “JamBASS”, de David Sampler.
Promover festa s com shows dos artistas paraenses no circuito Rio-São Paulo é outro plano arquitetado pelo grupo. Completam ainda o time Joe Benassi , David Sampler e o próprio OMULU.
Pesquisador de ritmos regionais, o carioca é considerado o “pai do brega-bass”, ritmo derivado da mistura de tecnobrega e global bass. O apelido vingou após divulgar uma mixtape no ano passado. OMULU acaba de integrar o casting da Agência B, que atende nomes como B-Negão, Chernobyl, Wooles, Blunt, Negralha e Xis.
“Bota a mão no narizinho”
Com versos como “bota a mão no narizinho”, a dança é polêmica, pois padê, na linguagem do pajubá, é uma referência ao uso de cocaína. Significa? O produtor, André Kaveira, justifica assim: “ a palavra também é uma referência aos cultos dedicados á Exu, batizados pelo mesmo nome”. Cabe ao bom entendedor decidir.
Gravado há um mês, somente o teaser do clipe do proibidao foi publicado no perfil de YouTube dos artistas. Em meio à uma boate futurista, a dupla encerra uma festança numa apoteótica “chuva de padê”, para deleite dos dançarinos de treme vestidos em tons neón. Tudo numa tremedeira nervosa. Quem ficou curioso, pode conferir a versão completa aqui, publicada com exclusividade na Soma.
Os vídeos caprichados e faixas bem produzidas fogem dos padrões populares. Para dar uma dimensão do grau de investimento, as plataformas utilizadas por Marlon Branco, para não ficar pequeno perto da alta Lady, foram encomendadas de Noritaka Tatehana, o camarada criador dos pisantes freaks da cantora Lady Gaga. Marlon é hoje o “Michael Jackson” das aparelhagens de treme, que virou a febre entre os músicos de tecnomelody e afins.
Confira abaixo o papo da Soma com OMULU, que se apresenta em São Paulo no começo de abril no Neu Club, na festa Avalanche Tropical (mais detalhes no fim da matéria)
Quando você começou a se enveredar pela música eletrônica com pitadas regionais?
Na adolescência, eu morei um tempo em São Paulo. Vivia nas matinês de clubes como Moinho e Kiron, bem de adolescente. Tocava muita dance music, mas alternavam com Daft Punk e Armand Van Helden. Acabei curtindo e fui atrás. Depois conheci o Columbia, ia para a Tocco. Era um clube de “cybermanos”, onde o Marky começou a tocar. Virou paixão. Quando voltei a morar em Petrópolis, comecei a mexer em softwares e me arriscar no techno. Ouvia muito Jeff Mills e Laurent Garnier. Mas não deu muito certo. Passei dez anos sem produzir. Nesse meio tempo, tive contato com o Diplo, comecei a trocar e-mail com ele, porque fiquei curioso em saber que havia um gringo pirando em funk carioca. Trocamos algumas músicas, porém, nunca nos vimos pessoalmente. Então comecei a curtir ritmos regionais, principalmente o de periferia. Mergulhei no som dos guetos globais, percebi que essa era a minha pegada.
A cena do techno se encheu de playboy, perdeu a essência, a cara de gueto. Começa a cair em fórmula. Eu sempre senti mais autenticidade desses dons que saem dos guetos. Fui atrás de moombathton, até toquei com o Munchi no Comuna [casa no Rio de Janeiro], no ano passado. Toquei vestido de Omulu.
E como você chegou até as aparelhagens do Pará?
Como eu fui parar no Pará? (risos). Adorava Los Bregas e outros grupos de lá, até porque misturavam sons de artistas como o Kraftwerk nas canções. Acabei pirando nas bases das músicas da Gaby Amarantos, quis saber quem tinha feito. Soube que era o Waldo Squash e entrei em contado pelo Facebook. Aliás, todos os artistas conheci dessa forma, na cara de pau! (risos). Assistindo a um clipe da Gabi vi um cara tatuado, esquisito. Pensei: ‘puxa, tem hipster até no Pará!’. Era um maluquinho da produtora de vídeos dela, entrei em contato e nos tornamos amigos. Ele passou diversas músicas de eletromelody. A qualidade muito boa. A sonoridade não era mais de teclado safadinho. Depois surgiu o convite para tocar em Belém no ano passado, toquei com a Gang do Eletro. Desde então, estou nesse rolê.
E a ideia do Jambú Music?
Conheci o Joe Benassi, o primeiro DJ de lá a usar synth de electro-house, inventou a eletromelody. No caso, era o hit “Satisfaction”, do Beny Benassi . Ele tinha um projeto com o Maderito, da Gang do Eletro. Os dois produziam umas músicas meio experimentais, mas não lançavam. No período de chuvas, do verão, é quando criam bases para as equipes e vendem cada música. Eles produzem uma quantidade muito grande de músicas, milhares. Quase uma por dia. Eu faço a cada um mês ou dois. Eles são geniais! (risos). É preciso muita criatividade. Eu tento fazer curadoria das músicas menos de mercado, os lados B, com menos vocais, são demais. Já a Lady Green e o produtor Kaveira conheci aqui no Rio, são malucos, sensacionais! Dou uma melhor acabamento na produção das músicas, disponibilizo no Soundcloud do selo. Também tento dar uma roupagem mais profissional à qualidade do som, para atrair artistas estrangeiros a fim de ouvir os ritmos paraenses.
E a “Dança do Padê”?
Estava num almoço paraense promovido pelo Kaveira e Lady Green, quando meu amigo mostrou a música. Ouvi e fiquei em choque. E achei engraçadíssimo! Quando eu lancei, muita gente falou mal, chocou. Sou bem resolvido com esses lances de drogas, a letra é divertida com uma melodia ótima. Apostamos nela para o lançamento do selo.
Omulu na Avalanche Tropical
Quando . 5 de abril, a partir das 23h
Onde . Neu Club . R. Dona Germaine Burchard, 421 – Água Branca – São Paulo / SP
Quanto . entre R$ 15 e R$ 25
Infos . neuclub.com.br
Eletromelody – do brega à boate, confira a seleção da Soma com o melhor do gênero
Além de OMULU, considerado o pai do “brega-bass”, definido por ele como uma mistura de tecnobrega com global bass, outros artistas nacionais estão fazendo uma mistura entre o som do Pará e batidas eletrônicas mais apuradas com trap, house e mash-ups diferentes. Jogam nesse time OMULU, Jaloo, Strausz e Daft Pobre. Ouça abaixo.
JALOOO
OMULU
DAFT POBRE
STRAUSZ
Fonte:SOMA

