Exclusivo: Jair Naves encara os reflexos do amor em single inédito; conheça título e capa do novo disco
por Lucas Brêda
“Acho que todo mundo já se apaixonou ou está fadado a se apaixonar um dia”, diz Jair Naves, revelando o tema recorrente de Trovões a Me Atingir, próximo disco dele: “a paixão e os efeitos dela”. E para apresentar os caminhos do segundo trabalho, o músico revela – com exclusividade no Sobe o Som – a capa e o primeiro single, “Prece Atendida”, do novo álbum.
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“Escolhi [a música] porque acho que ela aborda o assunto do resto do disco”, conta Naves. “Como [a paixão] é uma coisa que pode tanto acabar com a vida de uma pessoa quanto levá-la às alturas. É incrível como muito foi escrito sobre isso, e como os efeitos podem ser diferentes”. “É um dos poucos sentimentos que é verdadeiramente universal.”
Veja a capa de Trovões a Me Atingir

À primeira audição, “Prece Atendida” traz boa parte dos elementos que guiaram E Você Se Sente numa Cela Escura, Planejando a Sua Fuga, Cavando o Chão Com as Próprias Unhas, álbum de estreia de Naves. Ao longo dos mais de cinco minutos, contudo, novos aspectos surgem, desde a ausência de guitarra e percussão até a presença de backing vocals (por Bárbara Eugênia e Camila Zamith, em participação especial).
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“Apesar de ter os atributos das minhas outras composições, acho que ela tem uma roupagem diferente das coisas que fiz até agora”, explica o músico. “Acho que é menos agressiva, mais reflexiva – e é um lado que eu queria mostrar para as pessoas”. Mesmo sem a contundência de faixas como “Vida Com V Maiúsculo, Vida Com V Minúsculo” e “Pronto para Morrer”, “Prece Atendida” não perde em profundidade, qualidade quase inerente à voz excêntrica e sentimental de Jair Naves.
Conheça “Prece Atendida”, novo single de Trovões a Me Atingir
“Tem algumas características que são difíceis de mudar, mas, ainda assim, vejo diferenças bem grandes entre os discos”, adianta Naves. “O primeiro álbum era muito mais direto. Neste disco, eu e minha banda quisemos diferenciar o máximo possível do anterior. Então tem muito mais elementos, convidados – uma música que eu mal canto –, arranjos mais detalhados.”
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Trovões a Me Atingir – que foi viabilizado por meio de um financiamento coletivo – será lançado no próximo dia 3 de fevereiro, uma terça-feira. Para Naves, o fato de ter feito o álbum com a ajuda dos fãs, com certeza, foi algo que o influenciou na hora da gravação. “Eu me senti, sem dúvidas, com uma responsabilidade maior.”
“É uma situação completamente absurda, mas, se o Lou Reed tivesse feito uma campanha na época do Metal Machine Music, e eu tivesse ajudado, imagine como eu me sentiria completamente lesado, e o quanto eu ficaria feliz, porque ele estaria sendo ele mesmo, fazendo o que queria”, teoriza ele, brincando em seguida: “Mas, sinceramente, acho que meu disco não é exatamente o Metal Machine Music [risos].”
Enquanto Trovões a Me Atingir não é divulgado, vale a pena ouvir o primeiro trabalho de Jair Naves, E Você Se Sente numa Cela Escura, Planejando a Sua Fuga, Cavando o Chão Com as Próprias Unhas, na página dele no SoundCloud.
Fonte:Rolling Stone Brasil
Roubadas e Perrengues . Jair Naves e o mar de cerveja em Campo Grande
Quem trabalha com música independente – e às vezes nem precisa ser tão independente assim – no Brasil – e também nem precisa ser tão brasileiro assim – tem certeza de uma coisa quando sai em turnê: dia sim, dia não, sempre tem uma roubada.
Se em parte muita gente tenta justificar tantos perrengues na estrada citando um certo “amadorismo” na cena nacional, temos que convir que nem tudo é culpa dos já castigados promotores de shows país afora. Muito pelo contrário, os caprichos do destino são muitos: pode ser culpa das estradas esburacadas, do tio que dirige a van, de algum descompensado do público e, claro, com relevância estatística, do baterista, esse incompreendido.
O que importa é que os músicos entrevistados pela Soma estão cheios de histórias de roubadas para contar, mas nem sempre dá tempo de explorar o assunto nas entrevistas que publicamos. Por isso, a partir de agora, vamos dedicar uma seção só para elas: todas as terças, vamos trazer alguma crônica, cômica ou trágica, da vida na estrada. Nesta primeira edição, o músico paulistano Jair Naves se recorda da épica viagem que fez com sua banda para Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul. Com vocês, Mr. Naves:
Roubadas e Perrengues 1: Jair Naves e banda
Onde: Campo Grande – MS
Quando: julho de 2010
Jair x Maria Gadú
Quando fomos pela primeira vez a Campo Grande, em julho de 2010, eu não sabia muito bem o que esperar. Era a única capital do Centro-Oeste em que eu ainda não havia tocado – a bem da verdade, eu nunca sequer havia pisado no Mato Grosso do Sul. Minhas únicas referências da cidade eram duas ou três bandas locais que eu conhecia superficialmente, além de lendas sobre um hábito muito peculiar do underground campo-grandense, coisa de que eu falarei mais adiante.
Saímos correndo de um show em Pirassununga, com os heróis locais Suéteres, e, depois de uma exaustiva viagem, finalmente chegamos à capital sul-mato-grossense. Fomos recepcionados por algumas das pessoas mais amáveis que eu tive a sorte de conhecer em muito tempo. Uma das meninas da organização comentou que o show tinha recebido uma reportagem de meia página em um dos jornais da cidade, mas demonstrava um certo receio em nos mostrar a publicação. Quando finalmente pudemos ver a matéria, tive a certeza de que aquela seria uma apresentação memorável. O título dizia: “Jair Naves traz sua poesia a Campo Grande” – ou algo bem parecido com isso. A foto que ilustrava o texto era de uma pessoa olhando para o horizonte com ar contemplativo e meditativo, com um violão apoiado no colo. O grande detalhe é que a pessoa não era eu, e sim, por algum erro bizarro da redação do jornal, a Maria Gadú. Sério. Eu deveria ter enquadrado isso.
Jair Naves, agora é ele mesmo, por Lane Firmo
“A foto que ilustrava o texto era de uma pessoa olhando para o horizonte
com ar contemplativo e meditativo, com um violão apoiado no colo. O
grande detalhe é que a pessoa não era eu, e sim, por algum erro bizarro
da redação do jornal, a Maria Gadú.”
Algumas horas depois, já estávamos no palco nos apresentando pela primeira vez em solo sul-mato-grossense. À medida que a gente percorria as primeiras músicas do set, o público parecia cada vez mais empolgado e ao mesmo tempo, para a minha surpresa, distantemente respeitoso, quase reverente – e é aí que entra o tal hábito peculiar de que eu falei no primeiro parágrafo. Eu já tinha ouvido histórias sobre um costume do underground local de demonstrar satisfação nos shows jogando cerveja na banda – ou melhor, para ser mais preciso, cuspindo cerveja na banda. Confesso que estava ansioso para ver se isso era verdade mesmo, esperando para vivenciar as anárquicas cenas de interação entre artista e plateia que tinham me descrito tão vivamente. Mas já tínhamos tocado cinco ou seis músicas e nada.
Sendo assim, compartilhei dessa minha angústia com as pessoas presentes. Disse em tom de piada que tinha ouvido todas essas histórias maravilhosas sobre chuvas de cerveja em Campo Grande e que estava decepcionado. E que, se essa lenda tivesse um fundo de verdade e eles gostassem o suficiente das próximas músicas, eles já saberiam o que fazer.
Cerveja from Above
O que se seguiu a esse meu inconsequente pronunciamento foi chocante. Era como se tivéssemos despertado um instinto quase primata até então dormente nas pessoas – ou como se elas tivessem recebido autorização para começar uma festa nos seus próprios termos. Urros de alegria ecoavam no ar. Vinha cerveja de todos os lados na direção do palco, em ondas volumosas que pareciam sopros de dragão ou qualquer coisa fantasiosa do tipo. Foi bizarro. Os músicos a princípio ficaram desesperados tentando proteger os seus equipamentos, mas a situação chegou a tal ponto que eles tiveram que se render e entrar na brincadeira. Lembro bem de como a gente se olhava rindo durante tudo aquilo. Foi o show mais divertido da turnê até aquele momento.
O Daniel Guedes, talentoso guitarrista que tocava conosco na época e de longe a pessoa mais séria e comedida da nossa equipe naquele momento, disse no camarim: “é, esse fez a viagem valer a pena”. Se ele fez essa afirmação, mesmo após pesar os possíveis prejuízos que eu tinha causado ao seu set de equipamentos, é porque realmente tinha sido bom.
“… uma banda de fora ressuscitar esse costume tinha sido algo surpreendente.”
Quando acabou o show, algumas pessoas vieram me contar que aquele de fato era um costume no underground local, mas que aquilo teve de ser deixado de lado depois de muitos músicos terem ficado possessos com essa demonstração de carinho. E que uma banda de fora ressuscitar esse costume tinha sido algo surpreendente.
Na ocasião seguinte que tocamos em Campo Grande, bastou subirmos ao palco para as pessoas buscarem suas cervejas no bar. Foi assim, em meio a amorosas cusparadas e a um mar de cerveja, que fizemos alguns dos mais memoráveis shows em todos esses anos de estrada.
Fonte:SOMA
Jair Naves lança novo clipe, assista a “No fim da Ladeira, Entre Vielas Tortuosas”
O músico e compositor Jair Naves lançou nesta terça-feira (14) o clipe de “No Fim da Ladeira, Entre Vielas Tortuosas”, terceira música do álbum E Você Se Sente Numa Cela Escura, Planejando A Sua Fuga, Cavando O Chão Com As Próprias Unhas – um dos melhores de 2012 na lista da Soma.
Leia a primeira e a segunda parte da entrevista com Jair Naves
No vídeo, com direção de Daniel Barbosa, o músico e sua banda formada por Renato Ribeiro, Alexandre Molinari e Thiago Babalu, andam por estradas em Pirapora de Bom Jesus e Santana do Parnaíba, param em botecos e se arrumam para um show imaginário.
Confira abaixo o clipe.
Fonte:SOMA


