Amiri . Capoeira, Angola e batalhas
Depois de aparecer no cenário no final de 2011 com o single “Êta Porra!”, Amiri subiu pro jogo no rap nacional de vez neste ano com Êta Porra – O EP, disco com dez faixas (e mais uma bônus) misturando afro-centrismos – de ponto de capoeira a gírias angolanas –, flow frenético, dicção estranha e bases de diferentes matizes.
Com um codinome que significa “príncipe” em suaíli – principal língua da família banto – David Nascimento dos Santos, aos 23 anos, passou 2012 conquistando o espaço (e talvez acumulando um “cumbu”) para além das batalhas de MCs que o revelaram.
Como um dos principais nomes da nova geração a adotar sons, referências e posturas afro-centradas, além da sempre necessária consciência ideológica, Amiri conta que a relação com a música veio do berço. “[Meu pai] sempre foi envolvido com música negra. Organizava festas, tinha aparelhagem, LPs. De certa maneira, ele viu o rap nascer”, conta.
No disco, o MC rima com urgência, cuspindo linhas como balas em tracks como “Insônia” e “Licença Aqui”, mas fora do palco fala de maneira calma e pausada. “Sempre fui quieto. Minha mãe conta que, quando era pequeno, eu ia nas casas dos parentes, sentava, e não falava com ninguém. Quando voltava pra casa, imitava todo mundo”.
Nessa entrevista exclusiva para a Soma, Amiri conversa sobre o começo de sua carreira, as influências africanas e do freestyle em suas músicas, e deixa sua opinião sobre a recente onda de violência nas periferias de São Paulo.
Como você começou no rap?
Fiz meu primeiro rap com 12 anos, mas sem saber o que estava fazendo direito. Comecei de verdade no rap em 2009. Meu pai já ia para bailes, sempre foi envolvido com música negra. Organizava festas, tinha aparelhagem, LPs. De certa maneira, ele viu o rap nascer. Em 1990, ele já tinha vinis de rap internacional. O samba de raiz, o funk, o R&B sempre foram presentes na minha casa.
E politicamente, seu pai também é engajado?
Sim, hoje aos 51 anos é estudante de letras. Desde pequeno sempre mostrou filmes que relatavam a vida da população afrodescendente para mim e meus irmãos.
Isso explica porque você valoriza tanto a cultura negra em suas músicas...
Aprendi a dar valor desde cedo, graças ao meu pai. Ele sempre falava “olha, isso é racista, aquilo é racismo”. Aprendi a me orgulhar e ter consciência. Na verdade eu sempre achei que fizesse algo que valorizasse a nossa cultura, desde quando comecei. Acho que aquilo era o que eu queria ouvir de mim, mas penso que só consigo fazer bem hoje em dia, e sei que posso mais.
E nas músicas “Deixa Bater no Coração” e “Rima de Angolano” essa influência foi bem direta.
Em “Deixa Bater no Coração” eu tive primeiro a ideia da letra junto com um amigo, em casa. Ele é mestre de capoeira. Estávamos conversando sobre cantigas de roda e ele me contou que estava aprendendo a tocar atabaque. A partir dessa conversa surgiu a letra e a ideia da batida. O título também criei no mesmo dia: a ideia de valorizar o quão bonito a cultura negra é. E deixar ela chegar no coração, não de um modo frívolo, mas deixar você sentir a raiz – o rito mesmo. Vamos ver se você vai sentir mesmo.
Já em “Rima de Angolano” rolou que eu conheci alguns angolanos do meu bairro e ia para os bailes com eles. Então comecei a imitá-los, aprendendo algumas palavras que usam. Fiz a rima do angolano baseado nisso, mas criei um personagem insano que faz rap também. É uma mistura do que aprendi com meus irmãos de Angola com um pouco da minha criatividade e insanidade.
Amiri por Victor Sousa
Hoje está acontecendo uma onda de violência em São Paulo, mais especificamente nas periferias. Qual sua opinião, como morador da quebrada?
Eu não moro na periferia, mas vejo alguns pontos cruciais. Sou preto e pobre e me considero periférico. A única diferença é que tenho endereço fixo. Eu moro do lado de uma escola particular e lembro de muitas vezes – uma delas ontem, inclusive – de um ou mais garotos apontando, dando risada, falando do cabelo, brincadeiras pesadas e racistas. Isso marcou a minha vida.
Eu passei necessidade. Sou negro e pobre. Minha casa é a mais feia da rua. Era o único a não ter um videogame ou uma bicicleta. A diferença era gritante. Era sair na rua e se sentir mutante. Até rimou.
Sim, mas e a respeito da violência que vem acontecendo nas periferias. Todas essas mortes. Você tem alguma opinião?
Não me envolvo em alguns sentidos, por isso não sei a 100% o que acontece por trás dessa guerra entre o crime patrocinado e o morro. Tenho amigos da favela e acredito na informação que chega deles e não da grande mídia. Estamos vivendo um período em que a polícia se aproveita do motivo pra fazer o que gosta. Para falar que o que está sendo feito é o certo. É uma covardia patrocinada.
Você vê gente que estava comendo esfiha ou pizza na rua e morreu. Não estava fazendo nada. Estava na rua e morreu porque pareceu suspeito. Os policiais nasceram quando capitães do mato, na política de estado escravagista, hoje eles só estão de chip atualizado.
E qual o papel dos agentes culturais da periferia em um momento delicado como o que estamos vivendo?
É o papel de formador de opinião e cultura de resistência. Somos cultura de resistência. Temos a responsabilidade de fazer com que as pessoas tenham a consciência do que está acontecendo. Ser a arma para combater essa injustiça. A responsabilidade de manter-se unido e unir-se ainda mais. Para fortalecer a nossa resistência, que é uma das poucas armas que temos. E quando digo consciência e resistência não é só fazer músicas. Vivemos sob um conjunto de leis, sob uma constituição escrita, e quem está por trás disso tudo não quer sequer que aprendamos a ler. Temos que ter a consciência disso para não sermos manipulados.
Qual a influência do freestyle nas suas músicas?
Para mim o mais importante no hip hop é manter-se próximo da raiz e da tradição e, claro, respeitá-la. Em Nova York nos anos 70 existiam gangues que se matavam e faziam o que o sistema queria: pobres matando pobres. Para mudar essa paradigma, surgiram as batalhas de b-boys, MCs e a criatividade dos grafiteiros e DJs. Lembro isso porque acho bonito ressaltar essa disputa de criatividade saudável. Transformar os motivos de indignação da melhor forma: em música. O freestyle é uma disputa de criatividade, de quem tem a punchline mais pesada. O MC faz freestyle e escreve. E é ali que você tem que representar o ritmo e a poesia.
Fonte:SOMA
Flow MC e Amiri abrem o ano com shows gratuitos em São Paulo
Autores de dois dos melhores discos de 2012 para a Soma, os rappers paulistanos Flow MC e Amiri abrem 2013 com um show gratuito em dose dupla nesta terça-feira (8), no Studio SP.
Confira aqui todas as listas de fim de ano da Soma
A apresentação faz parte do rolê Noites Fora do Eixo, comandado pela turma do FdE, sempre com entrada gratuita e novos nomes da música brasileira.
Em 2012 o rapper Amiri, conhecido no circuito de batalhas de rap da capital paulista, lançou seu primeiro disco, o EP Êta Porra!, que ficou na 14ª posição na nossa eleição de fim de ano. Já Flow MC colocou sua segunda mixtape solo na rua, SensaFLOWnal, que veio no rastro da bem sucedida (e também integrante da lista da Soma de 2011) Vileiro.
Flow MC e Amiri nas Noites Fora do Eixo
Quando . Terça-feira (8), 21h
Onde . Studio SP . R. Augusta, 591 – São Paylo / SP
Quanto . só colar
Infos . studiosp.org
Fonte:SOMA
Rael faz show com abertura de Flow e Amiri em São Paulo
O rapper Rael continua a turnê de seu novo álbum, Ainda Bem que Eu Segui as Batidas do Meu Coração, com apresentação no Estúdio (antigo Emme), em São Paulo, neste sábado (4).
Veja o lançamento exclusivo do clipe “Semana” na Soma
Além do show de Rael acompanhado de sua banda formada por Dj Will, Bruno Dupré (Guitarra), Rato (baixo), Bruno Marcucci (teclado) e Muka (bateria), Flow MC e Amiri prepararam uma apresentação conjunta e inédita para abrir a noite.
Nos intervalos e enquanto os artistas não sobem ao palco, DJ Nyack (Emicida) discoteca clássicos da música negra.
Rael, Amiri e Flow MC
Onde . Estúdio – Avenida Pedroso de Moraes, 1036 – Pinheiros – São Paulo – SP
Quando . 4 de maio às 23h
Quanto . R$ 30 a R$ 40
Info . Facebook
Fonte:SOMA



