DJ Dago lança set de música eletrônica africana, leia entrevista
Se você mora em São Paulo e se liga em sons dançantes “terceiro-mundistas”, certamente já colou na Explode, festa semanal comandada pelo DJ Dago no Neu Club. Nesta sexta (9), por exemplo, quem toca com ele é a sensação do funk carioca pesado (ou “heavy baile”, como andam dizendo na gringa) Leo Justi, que produziu algumas tracks no próximo disco da M.I.A. e lançou um par de bons singles neste ano.
Dago se especializou nesse tipo de som a partir do trabalho como Centro Cultural Batidão, quando discotecava no Milo Garage às quintas dentro da festa do selo Peligro. Assinando a Explode desde a abertura do Neu, ele se tornou um dos principais nomes do remelexo afro-latino-brasileiro no país, e já botou som na Argentina, Chile, Espanha, EUA e outros picos mundo afora.
É por esse currículo bonito – e por termos visto ele lotar a pista do Neu umas trocentas vezes só tocando música “desconhecida” – que prestamos atenção toda vez que ele solta um set novo. E nesta semana a pedrada foi certeira, com a mix King of Africa: “tenho pirado muito em house angolano e outros sons eletrônicos da África. Acabei fazendo um setzinho de verão.”, explicou. Ficamos curiosos com os novos caminhos da música do continente e resolvemos bater um papo com ele pra saber onde e como ouvir mais disso, saca só.
King of africa by Dago Donato on Mixcloud
O que define o house africano em comparação ao produzido na Europa e nos EUA?
Acho que nem dá pra dizer que exista um house africano como um padrão para o continente. Acho que os maiores expoentes do house na África hoje são Angola e África do Sul. Mas é um mundo que eu tô entrando agora, não vou pagar de entendido. Comecei a fuçar por influência do meu chapa Valeo, que há algum tempo mandou um mix inacreditável de house angolano. Não sou muito bom pra manter o mesmo estilo por muito tempo num set, quem já me viu tocar sabe disso, então fiz essa mixtape mais captando uma vibe afro eletrônica do que qualquer outra coisa. Tem remix de produtor alemão, tem uma dupla portuguesa, tem o The Very Best, que de Africano só tem o cantor…
A mixtape também tem altos kuduro. Qual é a relação do kuduro com o house?
A história que rola é que em Angola o kuduro tá meio que morrendo, dando lugar ao ango-house, que tá em ascensão. O lance é que esse gênero, claro, absorveu elementos do kuduro.
Além do house e do kuduro, quais são os novos gêneros de música eletrônica na África?
Tem muita coisa legal saindo, além de Angola e África do Sul, que eu já citei, da Nigéria, Gana, Quênia… Até fica difícil de acompanhar. Mas, muito mais que gêneros, tenho visto uma produção eletrônica bem diversificada, do dancehall ao pop, passando por outros estilos, mas assimilando o lance regional.
Para quem quiser aprender mais sobre música eletrônica africana, qual é o caminho? Existem sites e rádios especializados nisso?
Eu acompanho a coluna do Benjamim Lebrave na Fader (Lungu Lungu) e alguns sites, como o This is Africa e o Okay Africa. O Youtube também sempre ajuda, com aquela parada de se perder nos vídeos relacionados.
Você tem contato com artistas africanos? Podemos ver algum DJ africano botando um som no Neu hora dessas?
Infelizmente não muito. O DJ e produtor Fletcher, dono do selo sul-africano African Dope, já tocou na Explode. Mas é difícil armar de trazer o pessoal da África pra cá. Porque no fim das contas vai custar uma grana e o público não tem interesse… Pena.
Fonte:SOMA
