Rolling Stone Brasil de fevereiro apresenta reportagem exclusiva sobre a passagem de Bob Marley pelo Brasil

A edição 102 da Rolling Stone Brasil, fevereiro/2015, traz na envoltório o ídolo Bob Marley, ícone responsável por tornar o reggae divulgado mundialmente.

Em um privativo dividido em quatro partes – Vida, Discografia, No Brasil e S Legado -, a revista traça um quadro da preço do músico que cresceu em meio à pobreza de Trenchtown, em Kingston, Jamaica. Em um texto histórico dos arquivos da Rolling Stone EUA, é narrada a trajetória de Marley, desde os dias porquê cantor em um trio ao lado de Bunny Wailer e Peter Tosh, até a morte precoce, aos 36 anos.

Bob Marley: os 70 anos do ídolo do reggae.

No capítulo Discografia, destrinchamos a curso de Marley e dos Wailers, álbum a álbum. Com base na vida que teve, no país onde nasceu e cresceu, a Jamaica, Marley deu voz aos desprivilegiados do Terceiro Mundo. S som que ele fazia se tornou universal: africanos, asiáticos e latinos sentiram uma conexão imediata e, décadas depois de sua morte, ouvir Bob Marley continua sendo uma experiência reconfortante.

Na seção No Brasil, que pode ser lida na íntegra, logo aquém, investigamos os dias que Marley passou no Rio de Janeiro, em março de 1980. “Bob tinha uma relação com o Brasil por justificação do futebol, que ele adorava”, relembra Marco Mazzola, representante da gravadora Ariola, que na estação convidou o cantor a vir ao país.

Bob Marley está na nossa lista de 25 momentos marcantes do Hall da Fama do Rock.

Por término, na seção S Legado, analisamos o peso atemporal e revolucionário de Marley, um varão contraditório e ícone cultural. Apesar de não ter criado o reggae, foi ele quem melhor se apropriou do gênero e não deixou a mensagem se perder.

Além da material peculiar de capote, a revista traz ainda revelações de Marilyn Manson, que fala sobre a tortuosa relação com a mãe; um perfil do excêntrico Bill Murray, que sempre faz as coisas a seu modo; entrevista com Madonna sobre o novo disco da cantora, Rebel Heart; os desabafos de Alice Caymmi, que quer solidar a curso na música sem descrever com o peso de seu sobrenome; e um bate-papo com Ricardo Boechat, o varão que teve rusgas com Roberto Marinho e, depois de consagrado porquê âncora, aprendeu a se locomover por São Paulo pegando carona com motociclistas.

Resenha: Marley – notável vida do planeta do reggae é desvendada em documentário de quase três horas.

Há também entrevistas com o elenco e os criadores da série Better Call Saul, derivada de Breaking Bad, um portfólio sobre a gigante das HQs Marvel, resenhas sobre os discos de Björk, Sleater-Kinney, Bob Dylan, Angra e muito mais.

A edição 102 da Rolling Stone Brasil chega às bancas em 18 de fevereiro.

Conexão Kingston Rio
A passagem de Marley pelo Brasil: futebol com Chico Buarque, maconha com Moraes Moreira e o encontro com uma fã

Por Ricardo Schott
Bob Marley já era um ícone quando entrou em um avião em Kingston, Jamaica, no dia 18 de março de 1980, rumo ao Rio de Janeiro. Ele vinha porquê convidado da subsidiária pátrio da gravadora alemã Ariola, que havia concluído de lançar uma leva de discos dele no país. A agenda incluía uma entrevista coletiva de prelo, passeios pela cidade, um bate-esfera com artistas no campo de Chico Buarque e uma sarau na moradia noturna Noites Cariocas.

A possibilidade de shows na capital fluminense chegou a subsistir. “Bob tinha uma relação com o Brasil por justificação do futebol, que ele adorava. Tínhamos uma programação, mas não sabíamos o que poderia ocorrer”, conta o produtor Marco Mazzola, representante da Ariola que fez o invitação a Marley, aos Wailers e a Chris Blackwell, presidente da Island, gravadora do artista. A esperança de Mazzola de testemunhar a um show de Marley no Brasil começou a morrer quando o avião que trazia a comitiva do cantor parou em Manaus para reabastecer. Os longos dreadlocks do cantor e de Jacob Miller (vocalista do Inner Circle, que veio junto) chamaram atenção da Polícia Federal.

“Botei advogados da gravadora. As autoridades falavam que ele iria incentivar a juventude a usar drogas. No final, liberaram o avião, desde que ele não se apresentasse. Não deram o visto de trabalho”, conta Mazzola. Na estação, Bob Marley ocupava o posto de imperador do reggae na Jamaica, na Europa e nos Estados Unidos, mas no Brasil dos anos 1980 ainda não era um ídolo das massas. Mesmo que Gilberto Gil já gravasse reggae desde os anos 1970 (incluindo “Não Chore Mais”, releitura em português de “No Woman, No Cry”), as batidas jamaicanas não eram exatamente populares no mercado fonográfico brasiliano. A PolyGram (hoje Universal) tinha lançado álbuns de Marley para um público escasso. Catch a Fire (1973) foi o primeiro deles, seguido por Kaya (1978), censurado por motivo da contracapa, que mostrava um cigarro e folhas de maconha. “Em 1980, Jimmy Cliff estourou com ‘Love I Need’. Peter Tosh veio participar da romance Água Viva e cantou no Brasil. Existia demanda por reggae, que surgiu na ressaca da febre disco, mas era restrita a uma turma descolada”, afirma o DJ carioca Wagner Fester. Com ou sem demanda, não havia hora pior para Marley saber um país que, mesmo flertando com uma “lhaneza”, ainda vivia sob o regime militar. Naqueles dias, o cantor trabalhava no disco Uprising (de maio de 1980, com o hit “Redemption Song”) e vivia uma tempo ainda mais politizada.

S avião de Bob Marley pousou no Aeroporto Santos Dumont por volta das 18h30 do dia 18. De lá, Marley partiu com sua comitiva para o Copacabana Palace. Uma entrevista coletiva marcada no hotel quase foi cancelada, porque diversos jornalistas chegaram atrasados. “Lembro que a equipe dele entrou em pânico”, conta o jornalista José Emilio Rondeau, um dos convidados que respeitaram o horário.

Na manhã do dia 19, Marley e Jacob Miller foram saber a favela da Rocinha, a Praça General Osório e a orla de Copacabana. Correram no calçadão, armaram uma roda de reggae em uma loja de sucos (elegeram porquê preposto o de maracujá) e foram entrevistados pela Rede Globo. Passaram boa secção do dia comprando instrumentos de percussão e chegaram três horas atrasados à próxima lanço: uma pelada no campo do Polytheama, time de Chico Buarque. Marley ganhou uma camisa do Santos e posou para fotos com ela. Mas o passe do cantor já era do time Ariola, formado também por Chico, Toquinho, Mazzola e alguns executivos. S placar ficou em 3 a 0 para a equipe, com um gol marcado por Marley, outro pelo jogador profissional Paulo Cézar Caju e o terceiro por Chico.

S planeta jamaicano deixou boa sensação, mas ninguém ali o descreveria porquê um craque. Mesmo assim, Moraes Moreira, que também jogou, considerou o gol de Bob “sensacional”. E ainda compartilhou outras atividades com o planeta. “Como se tivéssemos combinado, nos afastamos um pouco de todo mundo. Em uma das laterais do campo, acendemos ‘unzinho’ – ou melhor, ‘unzão’”, relembra o baiano. “Imagina a vaga que bateu!”

Ao término da partida, ficou combinado que todos iriam à sarau da Ariola no Noites Cariocas, no Morro da Urca – um evento para 800 convidados, entre astros contratados pela gravadora (além de Moreira, estavam na lista Milton Nascimento, Marina Lima, Ney Matogrosso e outros) e mais artistas, porquê as cantoras Simone e Baby do Brasil, que na estação ainda adotava o nome Consuelo. Marley chegou por volta das 22h e conversou com Moraes Moreira e Marina Lima.

Moreira era fissurado por reggae. “Usava trancinhas no meu cabelo e me sentia da mesma tribo, já que somos todos filhos da nossa mãe África”, diz o ex-integrante do Novos Baianos. Apesar do clima festivo, nem tudo estava tranquilo. “Marley fumou com uns artistas que estavam na sarau e a polícia, que também estava lá, viu”, lembra Mazzola. “Falaram que estávamos sendo vigiados. No fundo, ninguém estava tão protegido assim.” Pouco tempo depois, Moraes Moreira subiu ao palco, e em seguida Baby cantou uma versão de “Is This Love?”, intitulada “P Amor”. “Todos queriam que Marley cantasse. Perguntei a um rosto que o acompanhava se não podia rolar pelo menos uma música”, conta Mazzola. “Ouvi dele: ‘Você não entende? Estamos cá com advogados, se ele trovar, vai recluso!’” Marley acabou deixando o lugar no meio da apresentação de Baby.

Mazzola sugeriu ao ídolo a possibilidade de ele trovar no Brasil dali a alguns meses. Não daria tempo: diagnosticado com cancro, o planeta morreria em maio de 1981. S último dia de Marley no Brasil foi 20 de março. Por volta das 15h30, ele voou de volta para a Jamaica. Difícil manifestar se com pelo menos um show de Bob Marley no Rio de Janeiro o reggae teria sido absorvido mais rapidamente por cá. Seja porquê for, os cariocas se depararam com um rei pelas ruas da cidade e mal o reconheceram, já que o próprio cantor não parecia muito preocupado com cerimônias. No entanto, mesmo não se vendo porquê um planeta, no meio das andanças pela capital, Marley teve um pitoresco encontro com uma fã.

Casada na estação com José Emilio Rondeau, a jornalista Ana Maria Bahiana não foi encontrar Marley. Ficou em morada cuidando do fruto pequeno, Bernardo – por uma desculpa que ia além do zelo com o rebento. “Precisei me engajar na ‘Operação Jacira’”, brinca Ana Maria. Então babá de Bernardo, Jacira Silva era fã de reggae e queria saber Marley. Rondeau, que iria entrevistar o artista para a revista Manchete, levou Jacira para o bate-papo. No momento em que Rondeau apareceu no quarto de Marley e viu uma serra de maconha, Jacira estava ao seu lado. “Marley se encantou com ela. Jacob Miller também se interessou, ficaram todos conversando”, conta. Jacira não falava inglês e, embora fosse fã, não era groupie. “Ela não era disso. Só queria conhecê-lo. Hoje, é enfermeira. A última vez que estive com ela foi há dois anos, quando fui ao Brasil”, conta Ana Maria, que mora em Los Angeles. Segundo Rondeau, Jacira converteu- -se à religião evangélica e “nem gosta de falar desse matéria”.

S fotógrafo Mauricio Valladares acompanhou de perto a romaria carioca do ídolo, incluindo o encontro com Jacira. Para ele, “hoje é difícil andejar pelas ruas e não cruzar com alguém usando uma camiseta de Bob”. Se nos anos 1980 o reggae não era unanimidade no Brasil, agora o quadro é dissemelhante. “Marley é um deus cá”, crava Valladares.

Fonte:Rolling Stone Brasil