Pedro Luís adiciona cores às pérolas negras de Luiz Melodia em disco derivado de show em tributo ao compositor | Blog do Mauro Ferreira
O cenário multicolorido da toga do álbum Vale quanto pesa – Pérolas de Luiz Melodia é a tradução visual dos múltiplos sons ouvidos no disco em que o carioca Pedro Luís apresenta registro de estúdio do show em que dá voz ao cancioneiro do compositor conterrâneo Luiz Melodia (7 de janeiro de 1951 – 4 de agosto de 2017).
No disco, recém-editado no formato de CD pela gravadora Deck, Pedro adiciona cores às pérolas negras e já originalmente miscigenadas de Melodia.
O show estreado em abril de 2018 já era muito bom porque o cantor reafirmou o cintilação perene e ainda contemporâneo das maravilhas do responsável de Juventude transviada (1976), samba-canção adocicado em single apresentado em novembro para promover o álbum produzido por Rafael Ramos e lançado em edição do dedo em dezembro.
Porém, o show era espezinhado somente na pegada firme do trio formado por Elcio Cafaro (bateria), Miguel Dias (grave) e Pedro Fonseca (teclados), além dos toques do violão e da guitarra do próprio Pedro Luís.
Capote do álbum ‘Vale quanto pesa – Pérolas de Luiz Melodia’ — Foto: Nana Moraes
Já o disco ostenta metais e o violino de Felipe Ventura. Vem desses instrumentos muitas das cores do álbum Vale quanto pesa, dos quais subtítulo Pérolas de Luiz Melodia subtrai o “negras” presente no show originalmente intitulado Pérolas negras – Homenagem a Luiz Melodia.
A soma do trio de metais – formado por Diogo Gomes (trompete), Marlon Sette (trombone) e sax (Zé Carlos Bigorna) – e do violino altera a dinâmica dos arranjos. Até porque o violino de Felipe Ventura geralmente vale porquê quarteto de cordas pelas técnicas de estúdio.
Os metais fazem o samba-título Vale quanto pesa (1973) se aproximar do universo da gafieira e, aliados à regularidade da bateria de Elcio Cafaro, dão batida quase marcial à ensolarada Magrelinha (1973), dona de um dos arranjos mais vibrantes do disco.
Em Congênito (1975), música cantada por Pedro com citação de Ébano (1975) ao termo, há ainda a cuíca insinuante de Fabio Miudinho. Em Objeto H (1973), a cor vem da gaita de Milton Guedes.
Pedro Luís inclui no disco músicas ausentes do roteiro original do show, caso do reggae ‘Faceta a faceta’ — Foto: Nana Moraes
Felizmente, Pedro Luís e o produtor Rafael Ramos entenderam que a paisagem cinzenta de Abundantemente morte (1973) prescinde de cores. Música ausente do roteiro do show, o reggae Faceta a faceta (Luiz Melodia e Renato Piau, 1991) ressurge com a cor da sensualidade que taxa a formação lançada por Melodia em álbum, Pintando o sete (1991), de tom mais relaxado.
Mote do show que gerou o álbum, o antológico primeiro álbum de Melodia, Pérolas negras (1973), tentou tranquilizar a barra, mas surgiu onusto de tensões perceptíveis tanto no rock Pra aquietar (1973) – cuja pegada roqueira é evidenciada no disco de Pedro pelo toque ferino da guitarra de Paulo Rafael – quanto no samba Estácio, eu e você (1973).
Enfim, as cores das gravações originais de Luiz Melodia continuam vivas porquê há 46 anos. Nenhuma das interpretações de Pedro alcança a dimensão do esquina do Preto Gato, voz vinda do morro que se recusou a seguir a silabário ortodoxa do samba, pondo blues e rock, entre outros ritmos, na mistura fina da obra do compositor.
A soberania do responsável diante da própria obra não invalida a abordagem envolvente de Pedro Luís, fã que, a partir dos anos 1990, se tornou colega de Luiz Melodia, criando o próprio cancioneiro super carioca, com outras polaroides urbanas da miscigenada e, tão prazenteiro quanto tensa, cidade do Rio de Janeiro (RJ). (Cotação: * * * *)
— Foto: Editoria de Arte / G1
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