Ir e vir do CD ao streaming | João Sumo


Cláudio Jorge, violonista e compositor carioca da melhor linhagem, vai lançar um disco provocante já no título: “Samba jazz, de raiz”. Mal soubemos dele, ficamos nos indagando sobre o que seria. Samba ou jazz? Samba-jazz ou jazz-samba? E o que significaria o “de raiz”? Coisa formatada lá nos primórdios ou bossa bolada por um músico criativo?

Ouvindo o disco – doze faixas que funcionam uma vez que síntese das múltiplas qualidades de Cláudio Jorge – ficamos com a última hipótese, a da bossa bolada. Pois nenhum dos outros rótulos serve tão muito a um trabalho onde o compositor combina (ou sintetiza) muito do que tem feito em seus quase 40 anos de disco: rock e valsa, cha-cha-cha e baião, guitarra e violão, e até “sutis influências do jazz”. Mas um jazz, ressalte-se, devidamente arredondado pelo samba.

A intenção inicial de Cláudio Jorge era lançar esta caprichada coleção autoral somente em streaming. Ao saber disso, Paulo César Pinho, responsável da letra de uma das faixas (“Talvez não haja mais as paixões imortais uma vez que eu creio que seja a nossa…”), procurou o parceiro para expressar que lamentava muito, mas não ouviria o disco.

Não em streaming, frisou. O CD é o sumo de tecnologia novidade que Pinho, compositor e poeta, se permitiria. Foi portanto que Cláudio Jorge abriu em seu blog uma campanha para que os amigos contribuíssem na produção do CD, a ser lançado dia 12 de julho, no Meio da Música Carioca, no bairro da Muda, Rio.

O incidente vem confirmar não só a existência de vários modos de se fazer e de se dar nome a música uma vez que também as duas maneiras de se a ouvir. Os mais tradicionais ainda falam de samba, jazz e raiz, de preferência para ouvir em CD ou no ainda mais velho LP. Os mais modernos vão ao ponto de descobrir que o streaming é até capaz de traçar rumos da música do porvir.

Faz qualquer tempo, Jon Caramanica escreveu no “New York Times” cláusula proclamando “a libertação da música pop das amarras do velho disco”. Graças ao streaming, diz ele, gêneros uma vez que o reggeaton, o trap latino, o hip hop melódico, o rap-folk, o...

K-pop estão chegando às paradas de sucesso e ganhando lugar de destaque no Grammy.

No sentido oposto, o pop que imperou nos anos 80 (e nos subsequentes dias do CD), vão perdendo espaço. Ou – ainda segundo Caramanica – acabam de se transformar em meros “subgêneros”.

A questão é, no mínimo, complicada – e Cláudio Jorge pouco tem a ver com ela. Caramanica é o crítico de música pop do “New York Times”. Tem 44 anos. Portanto, não é mais um garotão correndo detrás da última (ou da próxima) novidade. É crítico que, olhando sempre para o porvir, acredita que música seja pura questão de tendência, de maneira que o que foi supra ontem é sub hoje.

Para ele, os nomes da vez são os astros do hip hop, uma vez que o canadense Drake, atração do próximo Rock in Rio, ou os jovens do K-pop, uma vez que o BTS, grupo coreano que acaba de nos visitar. Todos frequentes atrações do streaming, a mágica tecnológica que, garante Caramanica, os “libertou”.

Talvez esteja patente o crítico do New York Times, tão em dia com a modernidade. Visível sobretudo quanto à perda de espaço dos artistas cuja reputação e sucesso aconteceram a partir dos últimos dias do LP e de toda a vida útil do CD.

Pop à secção, o que não sabemos é se os ouvintes de outros gêneros musicais, uma vez que Paulo César Pinho, ainda vão se geminar aos eventuais encantos do streaming. Mais difícil saber é uma vez que os apreciadores da música clássica (que, creiam, ainda existem) viverão sem o CD.



Manadeira Notícia -> :Fonte Notícia



Mude para versão para dispositivos móveis deste site