Hierofante Púrpura e Alarde lançam split, ouça com exclusividade
O Hierofante Púrpura e o Alarde, acabam de lançar nessa terça (29) o split Espírito de Faca, conforme havíamos noticiado semana passada, com um teaser do projeto. Cada grupo contribui com uma música inédita ao split, além de trocarem canções – cada banda fez uma nova versão de um som da outra.
Pensando que poucos grupos ainda dividem seus discos atualmente e que a parceria fluiu de um modo bastante interessante, colocamos os integrantes das duas bandas para se entrevistarem num papo informal: a turma toda formulou as perguntas e cada um respondeu o que preferiu.
O resultado dessa troca de ideias e as faixas do Espírito de Faca, você pode conferir abaixo.
Para acessar o site exclusivo do split, clique aqui.
Por que um split? É uma ideia pouco trabalhada hoje em dia? Como está sendo o processo geral, desde a idéia inicial, gravação, versões das canções e etc?
Gabriel Lima (Hierofante Púrpura) . Aqui no Brasil, de fato é um tipo de idéia não muito seguida pelas bandas. Na gringa é mais comum, sempre rolam parcerias entre bandas para lançamentos em conjunto. Lembro bem de alguns splits bem legais lançados, como aquele do Polara e College (Não Use o Termo) que sempre foi uma grande referência pra nós, também o do Popstars Acid Killers com o Backseat Drivers (BSD-PAK). Acreditamos que pra isso realmente acontecer precisa rolar uma afinidade entre os grupos. Poder participar desse processo todo e ver que chegou a hora do lançamento é uma satisfação imensa pra todos nós. A ideia surgiu de uma forma meio que “pronta”, lançar uma música inédita e uma banda fazendo uma versão de um som da outra. Junto de toda empolgação do momento já apareceu o Diego Dalia, do estúdio Preto Velho Produções, querendo participar no projeto. Com isso o estúdio virou uma base tanto para as gravações das músicas quanto para os vídeos de “Faca” e “Espírito Espelho”, onde as pessoas poderão sentir como tudo foi realizado. Demos uma atenção especial para a versão de “Discutindo”: o som da viola caipira, misturada com aquelas percussões, o vocal grave do Luiz com uma segunda voz do Danilo e aquele baixo acústico, tudo isso deu um charme muito encantador e muito curioso em relação à versão original. “Coringa”, que na sua versão original é aquela catarse, com efeitos nas vozes e aquela intensidade já conhecida do Alarde, deu espaço pra uma versão com um piano ditando o ritmo e com um final cheio de improvisos e camadas de delays, “psicodeliciando” toda a tortura dos seus quase oito minutos.
Como será feito o lançamento? Quais serão as plataformas de divulgação, distribuição e merchandise do Espirito De Faca?
Gabriel Lima (Hierofante Púrpura) . O lançamento será feito com um hotsite que foi produzido pelo amigo Thiago Gal, onde apresentaremos as quatro músicas e dois clipes, que tiveram a direção/edição do Danilo Sevali e direção fotográfica do Ivan Pires. A grande surpresa é que o selo Pisces Records irá prensar mil cópias físicas em CD do Espirito de Faca, uma grande vitória para o projeto, pois não estava nos planos algo físico. Contaremos também com um apoio na distribuição dos discos do selo alagoano Popfuzz Records. Junto do CD estamos preparando um material de merchandise, uma camiseta especial que está sendo desenvolvida pelos amigos da marca Camisetas Psicodélicas. E pra celebrar todo esse projeto, assim que os discos chegarem da fábrica vamos fazer uma grande festa em São Paulo junto com a Preto Velho Produções – mas ainda não temos uma data definida. Também estamos cogitando a possibilidade de lançar o material nas nossas cidades (Mogi das Cruzes e São José dos Campos), para todos aqueles amigos que ajudaram direta e indiretamente no Espírito de Faca.
A violência é importante enquanto expressão ou é desprezível?
Luiz Silva (Alarde) . Sentimentos e emoções que geram agressividade, angústia, violência são comumente experimentados por todos nós no dia a dia. Alguns se afetam de tal forma e causam consequências graves, por não saber como administrar essas emoções. A música é uma válvula de escape das mais eficazes para transformar o sentimento destrutivo em expressão artística valiosa. Neste sentido, acredito que assim como nasce arte da beleza e do amor, o ódio e a violência são berços preciosos da manifestação humana e podem gerar lindos frutos se canalizados de forma saudável.
Vanguarda e experimentalismo ainda significam alguma coisa?
Danilo Sevali (Hierofante Púrpura) . Sempre serão importantes para pessoas que pensam com seriedade e interesse o termo “arte”. Não só na música (o recorte da presente entrevista), mas sim em todo âmbito que essa palavra abrange. São palavras ambíguas e que carregam...
peso e significado distintos dependendo do ponto de vista, no meu caso, estão sempre me sorrindo, propondo algo e provocando instiga. Em tempos de simples acesso a tudo e qualquer coisa, é de se ponderar o uso desses “gêneros” para que não soe mera maquiagem. É fácil se denominar vanguardista/experimental, difícil é realmente assim o ser. Não me considero como tal, até porque não dominamos ainda a tecnologia da viagem no tempo e espaço para que numa viagem rápida ao futuro me permita com uma olhadela ao passado concluir: “a música que fazíamos estava à frente do nosso tempo”, e até mesmo não faz parte do meu caráter essa presunção. Deixo isso para os críticos, que adoram falar umas merdas por aí, e pros saudosos anos 80, quando Arrigo Barnabé, Itamar Assumpção e cia nos mostraram como uma vanguarda deve ser. Quanto ao experimentalismo, a palavra já diz tudo e ela é fenomenal, leve, livre, permissiva, astuta, ouso dizer…perfeita! É tão bom experimentar, por que não fazer isso com a sua música?
O que acha do músico que só se sente realizado com o sucesso?
Luiz Silva (Alarde) . Nos dias atuais, no mercado musical independente, o sucesso várias vezes é medido por questões superficiais como a repercussão em mídias sociais, citações em blogs ou se sentir parte de uma cena musical forjada na troca de favores, lobby ou circunstâncias que nada dizem respeito ao que realmente importa: a música. Cada um persegue seus sonhos e realizações, na medida em que vislumbra o que lhe traz felicidade e satisfação. A música é o instrumento de comunicação com uma força maior, que toca o coração e evoca as emoções da forma mais natural possível. O sucesso, portanto, sob essa perspectiva, representa apenas um simples gesto que complete a mensagem da música desde quando composta, executada e, finalmente, absorvida pelo ouvinte. O sucesso e reconhecimento são etapas do trabalho, às vezes não aparecem na hora que queremos, ou simplesmente nunca virão. É preciso ser honesto consigo e com a missão de fazer e sentir a música.
O que você tem contra a música? O que te provoca?
Helena Duarte (Hierofante Púrpura) . Antes de mais nada, uno as duas questões em uma: a música me provoca – provoca estimulando e agitando cada molécula, das pensantes às sensíveis. Música unindo e fazendo nascer idéias, música fazendo chorar, música contando histórias, fazendo pensar, questionando, música dando tesão, dando raiva, extrapolando instintos sádicos: música como meio de viver a experiência do exorcismo, da faca girando e libertando a assombração refletida no espelho, a mais temida. Então eu poderia falar da música que me provoca negativamente, de estilos musicais emburrecedores e alienantes, ou da música vazia que não diz e nem sente nada, propagada através de mediazinha para cá, jabázinho para lá; e a música ditatorial que controla mentes frívolas e carentes… Tenho tudo contra essa música. Luto com violência e amor, usando as armas que estiverem ao meu alcance, e esse trabalho aqui é resultado disso.
Que conselho daria a um jovem que caiu em depressão cultural?
Danilo Sevali (Hierofante Púrpura) . Monte uma banda e questione os valores interesseiros impostos pela atual indústria cultural brasileira. Não confie suas decisões baseado numa fria tela iluminada, seja ela uma televisão ou um computador, de maneira alguma eles são mais espertos do que você. Critique publicamente/ferrenhamente as medíocres e sexualizadas letras da nova música sertaneja, ou qualquer outro gênero escroto, lembre-se de (ou melhor, conheça) Pena Branca e Xavantinho. Seja inflexível, duro e até mesmo teimoso quanto a ouvir o que eles chamam de rock (ou nova MPB) por aí, procure alternativas, não é difícil fazer uma busca pela web pra sacar o que tá rolando de relevante, de real, interessante e realmente novo. Converse pessoalmente com seus amigos, criem um cine-clube marginal. Não separe os eixos da política e do crime. Leia sempre, nada derruba o valor e a sabedoria contida nos livros. Confie sempre no lema: Ligar-se, sintonizar-se e libertar-se.
Fonte:SOMA

