Discos para desenredar em lar – ‘Nuvens’, Tim Maia, 1982 | Blog do Mauro Ferreira
♪ DISCOS PARA DESCOBRIR EM CASA – Nuvens, Tim Maia, 1982
♪ Em 1981, Sebastião Rodrigues Maia (28 de setembro de 1942 – 15 de março de 1998), o popular Tim Maia, estava sem moeda. Uma vez que tampouco tinha crédito nas gravadoras, por conta de passagens ruidosas pelas principais companhias fonográficas atuantes no Brasil, o cantor e compositor carioca se viu sozinho e sem espaço no mercado convencional.
“E por ter um gênio potente / Ás vezes me batem portas / E me jogam pra escanteio / Mas já estou avezado”, resignou-se Tim Maia nos versos reflexivos da música autoral Ninguém gosta de se sentir só, uma das 12 músicas de álbum de 1982, Nuvens, resultante desse momento de solidão mercadológica em que o artista recorreu à própria gravadora, Seroma (ocasião nos anos 1970 e batizada com as iniciais do nome de Tim), para tentar se erguer no mundo do disco.
Para poder bancar o álbum, Tim gravou e editou compacto em 1981 com a esperança de se capitalizar. Deu sorte, embora a música do lado B, Do Leme ao Pontal (Tim Maia), somente tenha derrubado realmente na preferência popular com a regravação de 1986.
Gravado e lançado em 1982, o álbum Nuvens foi reconhecido uma vez que vigoroso trabalho de Tim, mas nem por isso deixou de passar em brancas nuvens – com perdão do trocadilho.
Nuvens é um dos mais inspirados e menos ouvidos álbuns de Tim Maia, podendo ser considerado o marco final do auge artístico desse cantor e compositor que irrompera no raiar da dezena de 1970 uma vez que a mais perfeita tradução brasileira do soul e do funk norte-americanos.
Em seguida Nuvens, Tim adocicaria progressivamente o soul com o mel impuro de baladas industrializadas. Mas zero saiu do tom neste disco produzido e disposto pelo próprio Tim Maia em gravação orquestrada com os toques de músicos uma vez que o trompetista Paulinho Trompete e o guitarrista Beto Cajueiro, parceiro de Tim na elaboração do funk Apesar dos poucos anos.
Passados 38 anos, Nuvens resiste uma vez que um dos melhores álbuns do cantor. Tanto pela boa qualidade do repertório uma vez que pelo frescor do groove azeitado, mote de O trem (Tim Maia), música apresentada em versão instrumental no lado A do LP original e complementada em registro cantado no lado B.
E por falar em groove, o entusiasmado balanço de A sarau é um dos mais aliciantes da discografia de Tim. Na pista, A sarau zero fica a obrigação a Vale tudo (Tim Maia, 1983), o clássico momentâneo que o cantor lançaria dois anos depois em...
gravação feita com Sandra de Sá e incluída em álbum da cantora.
Batizado com o nome de refinada e portanto inédita balada soul de Cassiano, do qual toque do violão adorna a música-título Nuvens, o álbum apresentou samba-soul, Outra mulher (Tim Maia), e funk ambientalista, Ar puro, parceria de Tim com Robson Jorge (1954 – 1992).
Sem saudosismo, o cantor relembrou no funk Hadock Lobo esquina com Matoso (Tim Maia) – na qualidade de privilegiada testemunha ocular – o primícias juvenil dos colegas Erasmo Carlos, Jorge Ben Jor e Roberto Carlos em turma aglutinada no bairro carioca da Tijuca.
Na balada Deixar as coisas tristes para depois (Pedro Carlos Fernandes), Tim contrariou o título da música com ar melancólico que, a rigor, volta e meia aparecia na discografia do cantor e compositor de Azul da cor do mar (1970).
Ah, se o mundo inteiro pudesse ter ouvido em 1982 esse álbum Nuvens… O público ia se deparar com bela abordagem de Na rua, na chuva, na herdade (Hyldon, 1973), feita com o toque do violão do colega de geração soul, Hyldon, pai dessa música que estourou em 1975 dois anos em seguida ter sido lançada pelo responsável em obscuro compacto.
Hyldon também contribuiu com vocal em Sol resplandecente (Rubens Sabino e Tim Maia), música que fechou o álbum Nuvens em clima radiante.
No mercado fonográfico, o tempo se abriria para Tim Maia em 1983, ano em que o cantor assinou com a gravadora Lança, recém-aberta por Jairo Pires, e fez álbum que lhe rendeu os sucessos O inventor dos sete mares (Michel e Gilson Mendonça, 1983) e Me dê motivo (Michael Sullivan e Paulo Massadas, 1983).
Pena que, portanto, o tempo de Nuvens já tivesse pretérito, encobrindo um dos mais coesos álbuns da irregular discografia de Tim Maia.
Nascente Notícia -> :Fonte Notícia



