Centenário de Zé Kétti acende a luz sobre compositor que deu voz às alegrias e desilusões do morro | Blog do Mauro Ferreira


MEMÓRIA“Atear as velas / Já é profissão / Quando não tem samba / Tem desilusão”, reportou Zé Kétti nos versos de Atear as velas (1964), um dos sambas que mais muito traduzem a natureza politizada da obra deste compositor, cantor e ritmista carioca.

Em 2021, espera-se que o centenário de promanação de José Santos Flores (16 de setembro de 1921 – 14 de novembro de 1999) acenda novamente a luz do Brasil para a valor do legado do compositor.

Por ora, há no horizonte álbum gravado por Jards Macalé nos Estados Unidos no termo de 2019 com o trio do percussionista Sergio Krakowski – somente com músicas de Zé Kétti – e ciclo de shows no Núcleo Cultural Banco do Brasil que, a partir deste mês de janeiro, reapresenta os sambas de Zé Kétti nas vozes de cantores porquê Zé Renato, cuja obra fonográfica inclui álbum devotado ao cancioneiro do compositor, Originário do Rio de Janeiro (1996).

Zé Kétti – das quais sobrenome da puerícia tornado nome artístico é grafado com dois ‘t’, embora comumente seja escrito na mídia com um – é festejado sobretudo pela geração do samba A voz do morro, apresentado na voz do cantor Jorge Goulart (1926 – 2012) em disco gravado em setembro de 1955.

Ode ao samba, A voz do morro romantizou um Brasil feliz e foi o primeiro grande sucesso de Zé Kétti, que começara a criar no termo dos anos 1930 e tivera a primeira música gravada em 1946, Vivo muito, pelo cantor Ciro Monteiro (1913 – 1973).

Antes da explosão de A voz do morro, o sucesso começou a espancar na porta do compositor quando a cantora Linda Batista (1919 – 1988) gravou em 1951 o samba Paixão passageiro (Zé Kétti e Jorge Abdala), hit do Carnaval de 1952.

Nascido e criado entre bairros do subúrbio carioca, porquê Inhaúma e Piedade, Zé Kétti subiu muito os morros da cidade e, neles, apreendeu a sintaxe do samba que, no caso das criações do compositor, muitas vezes nascia no batuque suave de caixa de fósforos.

Rebento e neto de músicos, o artista ascendeu a partir dos anos 1950 quando associou à obra ao engajado Cinema Novo e passou a fazer sambas com fortes tonalidades sociais. Dessa cepa, são Malvadeza Durão (1959) – samba visionário sobre a morte de líder do morro “valente, mas muito considerado” – e Opinião (1964), formação que batizou show teatralizado que uniu Zé Kétti a Nara Leão (1942 – 1989), cantora que, a partir de logo, se tornaria uma das principais intérpretes do compositor.

Porém, seria redutor enquadrar somente na moldura social a obra de Zé Kétti, artista cuja trajetória perdeu impulso a partir da dez de 1970, embora o compositor nunca tenha deixado de ser gravado com regularidade.

Também levam a assinatura de Zé Kétti a marcha-rancho Máscara negra (Zé Kétti e Hildebrando Pereira Passos, 1966) – sucesso do Carnaval de 1967 na voz de Dalva de Oliveira (1917 – 1972) e desde logo hit certeiro nos salões – e a obra-prima Mascarada, composta em 1964 com melodia sublime do bamba Elton Medeiros (1930 – 2019), que lançou o samba em 1966 em pot-pourri de disco dividido com Paulinho da Viola.

Por tudo isso, 2021 é ano em que o Brasil deve comemorar Zé Kétti, compositor que deu voz às alegrias e desilusões do morro e do samba.



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