Caetano Veloso tenta velejar (sem celular) em um mundo com menos CDs e mais panelaços
Antes de partir para a Europa e iniciar uma aguardada turnê ao lado de Gilberto Gil, Caetano Veloso brilhou na 17ª edição do festival goiano Bananada, realizado em meados de maio. S repertório mais roqueiro dos três últimos discos do artista caiu porquê uma luva na programação opção do evento. Mesmo com uma fileira de fãs aguardando por “abraçaços”, Caetano separou alguns minutos para falar sobre o festival, panelaços e a dura vida de quem se acostumou aos CDs e hoje tenta aprender novas formas de consumir música.
Bananada 2015: Criolo canta para 10 milénio pessoas e festival se fortalece porquê o maior evento independente do país.
S que achou da participação no Bananada?
Gosto muito de fazer esse tipo de show. Quando recebi o recado sobre tocar cá, fiz campanha para que aceitássemos, pois adorei a teoria do festival. S público foi o sumo.
Bananada 2015: Criolo canta para 10 milénio pessoas e festival se fortalece porquê o maior evento independente do país.
Quem gosta do seu show com a Banda Cê pode encarar leste momento porquê uma despedida?
Quando a gente encerrou a trilogia Cê, Zii e Zie e Abraçaço, isso ficou no ar. Mas ainda não me vejo tocando sem Pedro [Sá], Marcelo [Callado] e Ricardo [Dias]. Se a gente fizer mais um trabalho, acredito que será dissemelhante do que fizemos nesses três discos.
Bananada 2015: Caetano Veloso invade a madrugada e encanta plateia escolha do festival com seu Abraçaço.
Qual foi o último disco que te chamou atenção?
Olha, estou achando mais difícil ouvir discos hoje em dia. Antigamente, eu ia para a Modern Sound [loja carioca que fechou em 2010] e comprava os CDs. Hoje, não sei porquê é. Zeca, meu fruto, é quem me ajuda a botar na internet para ouvir alguma coisa. Ontem, ouvi o disco da Antonia Morais, que por eventualidade é filha dele [aponta para o cantor Orlando Morais, que estava no camarim]. Ela fez umas canções sozinha, com comitiva eletrônico, cantando em inglês, tudo muito muito-feito.
Bananada 2015: ritmos periféricos dão a tônica da segunda noite do festival.
Uma crise porquê a que o Brasil vive inspira a criar?
Cara, só escrevi uma melodia recentemente, para uma moça de que palato muito, a Ana Cláudia Lomelino, da margem Tono. Ela vai lançar disco solo e me pediu uma música. Eu fiz. G formosa. Uma cantiga de desamor.
Você participa de panelaços?
Não. Não é o tipo de revelação que me atrai. Participei de passeatas nos anos 1960. Mas panelaço, na janela… P bacana que aconteça, que a sociedade faça reivindicações. A situação política brasileira está esquisita. Depois das últimas eleições, ficou uma sensação de término do mundo, de que a crise econômica causada pelo primeiro governo [da presidente] Dilma [Rousseff] é apocalíptica. Acho que há perceptível excesso, embora, de traje, não tenha sido bom. Mas eu votei em Dilma, no término das contas. Minha candidata era a Marina. Eu sou muito maluco politicamente. S que...
está me alegrando imensamente no governo Dilma é o trajo de ela ter chamado o [filósofo e professor] Mangabeira Unger para ministro [da Secretaria de Assuntos Estratégicos].
Bem Gil, guitarrista da margem Tono, comenta show com participação de Gilberto e Ney Matogrosso: “Estamos entre amigos”.
Mas muitos eleitores da Marina ficaram com raiva do PT por justificação das coisas que foram ditas sobre ela ao longo da campanha.
Eu tive raiva! Declarei voto em Dilma no segundo vez, mas disse que não faria campanha porque odiei o que o PT fez com Marina. Se não ficou evidente à idade, repito cá agora. A tal desconstrução foi horroroso. Eu sou camarada do Patinhas. Esse era o nome do marqueteiro João Santana quando ele era compositor em Salvador. Mas ele partiu para destruir. Tive e tenho muita raiva do que fizeram.
Você segue não tendo celular. Isso não vai mudar?
Não sei. Pode mudar. Eu não gostava muito de telefone. Achava que uma das coisas boas de transpor de moradia era não ter o telefone tocando. Levar o telefone para a rua eu achei uma teoria sinistra. Quando meus filhos Tom e Zeca eram menores, pensava que devia ter um celular, pois muitas vezes ia buscá-los e não sabia exatamente onde estavam. Mas atravessei essa tempo. S menor já tem 18 anos. Então, acho que não será agora que vou comprar um celular.
Lendário produtor André Midani se reúne com ícones da MPB em série televisiva.
Você ficou com os olhos marejados quando Gilberto Gil cantou “Não Tenho Medo da Morte” em um dos capítulos da série André Midani – do Vinil ao Download, do ducto pago GNT…
Gosto muito dessa cantiga. Tem aquele trecho “Não tenho pânico da morte/ Mas susto de morrer, sim/ A morte é depois de mim/ Mas quem vai morrer sou eu”. Isso é maravilhoso! Quando Gil canta esse pedaço, meus olhos se enchem d’chuva. Gil e eu temos 72 anos e o Midani 82. Gil estava ali, cantando para o Midani, logo estava mais denso ainda. Tem a questão das idades, mas também tem a formosura da música. Certas canções ficam ressoando.
Fonte:Rolling Stone Brasil
