Bruno Capinan amarga a ressaca da sarau em álbum sobre insatisfações e solidões do mundo real | Blog do Mauro Ferreira


Bruno Capinan é cantor e compositor baiano que vive na ponte Brasil-Canadá, fazendo a travessia intercontinental desde que migrou em 2002 para a cidade de Toronto.

A vivência cosmopolita do artista revestiu de modernidade a conexão com os sons africanos da Bahia natal que pautaram o terceiro álbum de Capinan, Divina perdão (2016), lançado há três anos. Neste disco de aura gay, produzido por Domenico Lancellotti com a colaboração de Muito Gil e do próprio Capinan, o cantor comandou a sarau da mesocarpo e do espírito com doses equilibradas de sexualidade e espiritualidade.

Real, o recém-lançado quarto álbum de Capinan, soa uma vez que a ressaca da sarau que satisfaz o corpo, mas nem sempre o espírito. Assuntos de músicas uma vez que Real agora (Bruno Capinan e Ubunto) e Algoritmo (Bruno Capinan), o prazer fugaz acessado vias aplicativos sexuais vem embalado em solidão e desilusão.

Capa do álbum 'Real', de Bruno Capinan — Foto: Lucas Murnaghan Capa do álbum 'Real', de Bruno Capinan — Foto: Lucas Murnaghan

Capote do álbum ‘Real’, de Bruno Capinan — Foto: Lucas Murnaghan

Real, o disco, se equilibra em tênue traço sombria. “Eu sou um equívoco / … / Serei / Sempre um equívoco”, deprime Capinan no tom cool de uma das músicas mais inspiradas do repertório autoral do álbum, Equívoco (Bruno Capinan).

Orquestrada por Capinan com o canadense Mark Lawson, engenheiro de som de álbuns da orquestra conterrânea Arcade Fire, a produção músico de Real cria temperatura cool que irmana o clima gerado pelo mix de sintetizadores, cordas – e cabe registrar o belo reparo da já mencionada música Real agora – e percussões que revestem composições uma vez que Escorpião (Bruno Capinan) e Tropa, fita de arquitetura pop eletrônica moldada por Ubunto, parceiro do artista na elaboração.

Nesse mergulho introspectivo do disco, há belezas que emergem ao longo das 12 músicas. Cantiga adornada com o esquina de Mãeana, posto em tom quase etéreo, Do avesso (Bruno Capinan) é uma dessas belezas escondidas na atmosfera noturna do disco. O superabundante reparo de cordas de Graham Campbell valoriza a fita.

Bruno Capinan lança o quarto álbum, 'Real', com músicas de tom introspectivo — Foto: Alexandre Maciel / Divulgação Bruno Capinan lança o quarto álbum, 'Real', com músicas de tom introspectivo — Foto: Alexandre Maciel / Divulgação

Bruno Capinan lança o quarto álbum, ‘Real’, com músicas de tom introspectivo — Foto: Alexandre Maciel / Divulgação

O álbum Real versa muito sobre ausências e carências, tema de Um flerte socialista (Bruno Capinan). Essencialmente cantado em português, o disco apresenta música em inglês, Love’s will, música de acento folk gravada com a voz de Rubel, convidado desse momento solar de repertório que não evita a exposição de estados sombrios da espírito.

“A pessoa que você / Me disse ser / Não era”, constata e martela o cantor, desenganado, no refrão de Pessoa, parceria de Capinan com Domenico Lancellotti.

Arrematado com O pajem, música feita por Capinan a partir de poema do jornalista português Mário Sá Carneiro (1890 – 1926), o álbum Real versa sobre mundo deprimido por solidões e insatisfações. É a ressaca da vida que às vezes parece uma sarau. (Cotação: * * *)



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