Aos 80 anos, Dona Onete leva Pará ao Rock in Rio: ‘Quina carimbó, bolero, rock. Faço o que eu quiser’ | Rock in Rio 2019
Quando não está cantando, Dona Onete gosta de recontar histórias.
Narra, por exemplo, a estação em que atravessava de canoa o banzeiro – motim das águas provocada por alguma embarcação – para trovar para os botos na beirada do rio.
Também fala do momento em que recusou o contrato com uma grande gravadora para não se render às demandas do mercado.
“Não assinei para não trovar o que eles querem que eu cante. Eles espremem a gente que nem laranja”, diz ao G1. “Quero trovar o que é meu, da nossa terreno. Não tenho pressa.”
Não mesmo, enfim ela já esperou mais de meio século para transformar o hobby em curso.
Proveniente da pequena Catadupa do Arari (PA) e ex-professora de história, Ionete da Silveira Gama foi invenção quando já estava aposentada, enquanto cantava numa sarau de carimbó.
“Naquela estação, o carimbó era só de varão, mulher não entrava. E eu consegui.”
Ficou mais conhecida quando fez uma ponta no filme “Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios” (2011), protagonizado por Camila Pitanga.
Desde portanto, lançou quatro álbuns – o mais recente, “Rebujo”, saiu neste ano. Aos 80, é considerada diva do carimbó “chamegado”, que tem influência do bolero. “Tinha uma vaga do bolero vazia. Acho que ocupei, ganhei esse espaço.”
Para Fafá de Belém, Onete “simboliza, mais do que ninguém, o que é o Pará: uma mulher que, aos 60 anos, dá um ‘pitú’ em tudo” para viver de música.
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As duas amigas costumam se encontrar para fustigar papo e trovar juntas. Também se verão na edição deste ano do Rock in Rio, quando subirão ao palco Sunset para uma apresentação dedicada à música paraense, o Pará Pop.
Lucas Estrela, Fafá de Belém, Dona Odete, Gaby Amarantos e Jaloo em evento do Rock in Rio 2019 — Foto: Divulgação
Gaby Amarantos e Jaloo, cantores de gerações mais recentes, e o guitarrista Lucas Estrela também participarão do encontro. Onete vai comandar a sarau.
Ela, uma octogenária, tem um dos nomes mais celebrados da novidade geração de artistas paraenses. Eles têm redefinido os sons do estado, sem tirar os pés do pavimento.
Encantou Caetano Veloso e David Byrne em um show em Novidade York e mostrou comida paraense na Austrália. “Quando eu chego, o povo até me pede em casório”, brinca. Amarantos, Fafá e Daniela Mercury estão entre os artistas que já gravaram composições suas.
“Eu esquina carimbó, bolero, rock. Faço o que eu quiser. Não sei o que desce na minha cabeça para fazer uma coisa assim… uma mulher da minha idade.”
Dona Onete Banzeiro — Foto: Divulgação
Com 80 anos, ela conta que só sai de moradia se for “para provocar”. E diverte-se com sua presença na programação de um festival de rock.
“Aconselhei tanto os meus alunos a não se meterem com rock. Hoje estou indo para o Rock in Rio.”
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