João Gilberto se foi, mas deixa obra-bússola que precisa permanecer atingível com a sublimidade almejada pelo gênio | Blog do Mauro Ferreira


João Gilberto (1931 – 2019) se foi, mas deixou obra-bússola que serve de guia introdutório para a moderna música do Brasil. Infelizmente, essa obra vem sendo desrespeitada em edições extra-oficiais produzidas sem a sublimidade obsessivamente almejada pelo cantor, compositor e violonista baiano nos discos e nos shows.

É só perfurar os players digitais em que se pode ouvir e/ou comprar músicas e discos para justificar o desleixo na oferta de coletâneas e álbuns editados à revelia do artista (e dos detentores dos direitos das obras) com capas horrendas, por vezes adulteradas e, no caso de alguns álbuns, com faixas adicionadas ao repertório sem o menor critério.

Basta manifestar que, por conta de questões jurídicas e/ou familiares, os títulos da trilogia principal da discografia de João – Chega de saudade (1959), O paixão, o sorriso e a flor (1960) e João Gilberto (1961) – nunca foram relançados em edições oficiais.

Sínteses da obra de João e do som rotulado uma vez que bossa novidade, estes álbuns estão disponíveis nas plataformas através de edições produzidas sem autorização e sem uma remasterização minimamente decente. O álbum João Gilberto, de 1961, por exemplo, figura com o título suplementar Bossa novidade! de edição feita na Europa.

Painel de discos de João Gilberto à venda em plataforma de música — Foto: Reprodução / Internet Painel de discos de João Gilberto à venda em plataforma de música — Foto: Reprodução / Internet

Tela de discos de João Gilberto à venda em...

plataforma de música — Foto: Reprodução / Internet

Sim, há exceções, uma vez que o álbum Amoroso (1977), obra-prima da discografia de João, disponibilizado de forma solene pela gravadora Warner Music em edição do dedo e em LP relançado (com renitência) em 2018 em parceria com a Polysom.

Título menor da obra do cantor, pela orquestração de cordas que soam por vezes proeminentes, o álbum João (1991) também está disponível em edição solene atribuída a Universal Music (o disco saiu originalmente pela Polygram, encampada pela Universal em 1999). Já o último álbum de estúdio do artista, João – Voz e violão, editado em 2000 com resultado superior ao disco de 1991, se encontra fora de catálogo.

Enfim, João Gilberto fez muito pela música do Brasil. Há até quem diga que ele fez tudo. Por isso, é justo que o Brasil – e aí entenda-se sobretudo as companhias fonográficas e os detentores dos direitos dos discos oficiais do artista – faça o mínimo por João Gilberto e torne a obra do gênio atingível nas perfeitas condições perseguidas por esse cantor que fazia o supremo com o mínimo.



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