Alice in Chains enfileira hits cheios de distorção em São Paulo

O Alice in Chains precisou recomeçar após a morte de Layne Staley, excelente vocalista da banda de Seattle, morto por overdose em 2002. O competente Willian DuVall assumiu os vocais e o grupo seguiu em frente. O que se viu na noite desta quinta-feira, 26, no Espaço das Américas, em São Paulo, foi um Alice in Chains que sabe olhar para os dois lados: passado e futuro caminham de mãos dadas nesta nova fase do grupo.

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Substituir Staley, é claro, não é uma tarefa fácil, mas como a banda mostrou em 2011, no festival SWU, e na última quinta-feira, 18, durante o Rock in Rio, o caminho percorrido por DuVall honra o que já foi feito, sem cair na armadilha de transformar o Alice in Chains em um cover de si mesmo.

Muito disso se deve ao poder do carisma de Jerry Cantrell no palco. Ele, ao lado do baterista Sean Kinney, é membro fundador da banda fundamental para a explosão do grunge na década de 90. E o Alice in Chains sobreviveu (e ainda sobrevive) graças ao peso da guitarra de Cantrell, psicodélica, viajante e entorpecida de distorção.

Quase como um mimo aos fãs, o grupo deu início ao show, pontualmente às 21h30, com dupla que abre o disco Dirt, lançado em 1992. “Them Bones” e “Dam That River” mostraram ao Espaço das Américas o peso da banda ao vivo.

Foi com a ajuda de Cantrell, na segunda voz, que o frontman se soltou – e também porque as duas canções seguintes foram criadas quando ele estava na banda. “Hollow”, do disco The Devil Put Dinosaurs Here , lançado recentemente, é poderosa ao vivo, com frases arrastadas no refrão, perfuradas pela pontual guitarra do líder da banda. “Check My Brain”, sacada do álbum que marcou o retorno da banda, Black Gives Way to Blue (2009), apresentou figuras hipnotizantes no telão do fundo do palco, auxiliando a fortalecer o transe.

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“E aí, galera?”, perguntou o vocalista ao público, em um simpático português. DuVall pode não ter a rouquidão visceral de Staley, mas acerta ao não se esconder diante da memória do antigo dono do microfone do Alice in Chains e circula por todo o palco, pede por coro da plateia e comanda o show com uma performance entusiasmada.

“Man in the Box” veio logo na primeira metade da apresentação, sob comoção do público. Foi esta a música responsável por fazer do Alice in Chains o grupo que é hoje...

em dia. Ela emula, na essência, tudo aquilo que a banda possui de melhor – e isso inclui as performances também arrojadas de Mike Inez, substituto do baixista Mike Starr, que deixou ao grupo em 1993, e do baterista Sean Kinney.

Kinney, aliás, merece destaque no som que o Alice in Chais produz sobre o palco. Ele martela bumbo, tambores e pratos com a força de operário de construção civil, construindo a cadência característica da banda com maestria e dinamismo. O hit “No Excuses”, é um exemplo disso.

“Your Decision”, balada de Black Gives Way to Blue (2009), é cantada por Cantrell, e diminuiu mais as batidas por minuto da banda, seguida por Last of my Kind, do mesmo álbum, e “Stone”, pinçada do trabalho mais recente. “Vocês são sempre ótimos”, disse o guitarrista, em inglês.

A banda deixou o palco com “Nutshell”, na qual DuVall se arriscou no violão, enquanto duas camisetas da seleção brasileira de futebol eram colocadas nas laterais do palco. Uma trazia o número 2 nas costas, com o nome de Layne, e outra, uma camiseta de número 9, trazia “Staley”. Após o mise-en-scène de sair e voltar ao palco, o grupo atacou com “Would?” e “Rooster”. O show acabou em uma hora e meia: direto, rápido e recheado de hits. Honroso, sim, mas consciente de que o futuro da banda ainda está aberto. O Alice in Chains deixou o palco depois de puxar gritos de “olê, olê, olê”. DuVall, Cantrell, Kinney e Inez agradecem mais uma vez e foram embora. As camisetas com o nome do antigo vocalista, contudo, ficam ali, iluminadas por um jato de luz. Como um altar com objetivo duplo: lembrar a banda como era e fazê-la seguir adiante.

Fonte:Rolling Stone Brasil



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